Curiosidades - Caminho
INTUIÇÃO E APRENDIZAGEM NAS ARTES MARCIAIS:
Existe um termo etimológico, comum a todas as artes marciais, que devidamente analisado sublinha a diferença
existente com qualquer outro género competitivo, este é o termo "do", cuja tradução por direcção ou caminho
permite vislumbrar a separação pretendida entre uma mera execução depurada e a consecução de uma autêntica
disciplina, na qual a técnica dos movimentos não é mais que um instrumento ao seu serviço, que se bem nos guia
pelo caminho, não é o seu final.
O discernimento disto pelo espírito oriental, apoiado no pensamento Zen, permitiu que os conhecimentos se
perpetuassem e passassem do mestre ao aluno através dos anos, com certas variações técnicas, condicionadas pelo
ambiente físico de cada época, mas aglutinadas todas elas ao redor de uma ideia, o conhecimento das coisas na
sua forma real e de nós mesmos como meta final.
Este "do", este caminho necessário a percorrer se apoia num sistema, a intuição ensinada, a qual nos leva ao
paradoxo de que algo próprio e íntimo de cada indivíduo, a intuição, pode ser ensinado, e inclusive formar escola.
Isso se consegue perseguir através dos métodos de ensino Zen, que os mestres transferiram ás artes marciais.
Assim, concluem, a consecução de uma actividade plena e o seu conhecimento na sua forma real ou interna só se
consegue através da própria intuição, a qual guia o indivíduo pelo caminho certo.
Por isso o mestre tende a cultivar esta própria intuição, e perante a impossibilidade de ensiná-la, por ser
particular e própria de cada eu, inicia a aprendizagem, colocando o aluno perante umas condições preestabelecidas
para que possa alcançar a compreensão, provocando situações, normalmente violentas física ou psiquicamente, que
fazem-no actuar dentro do não pensar, dentro do caminho, sendo depois o aluno quem terá que segui-lo, ver ou não
ver e compreender, ou não, o visto.
Este canalizar repetitivo através da aprendizagem e encaminhado a intuição, nos oferece a dualidade de termos,
intuição e aprendizagem, não como disjuntiva, mas em íntima união. A sua separação produz "génios loucos" que
realizam façanhas sem explicação, em determinados momentos e cujo labor, de estrita intuição pessoal, não deixa
caminhos nem ensinos a seguir. Igualmente, a mera aprendizagem técnica não produz mais autómatos, de estilo mais
ou menos depurado, que ignoram a verdade de quanto julgam saber.
Por isso a intuição e a aprendizagem devem apoiar-se mutuamente, marcando o caminho que só com esforço e
constância pode-se seguir, para progredir nas artes marciais e na vida mesma.